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Análise do Comportamento e Ansiedade

Muito se fala sobre ansiedade e o quanto a mesma atrapalha e prejudica a vida das pessoas, todavia, esse termo pode se referir a eventos bastante diversos, tanto a estados internos do falante, quanto a processos comportamentais que produzem os estados internos (Zamignani & Banaco, 2005). Muitos eventos descritos como agradáveis também podem implicar em sentimento de ansiedade (p.e. situações de espera de algo agradável), todavia, não é essa ansiedade que atrapalha e prejudica a vida de muitas pessoas, chamada coloquialmente como ansiedade e/ou expectativa e sim, quando a ansiedade se refere à relação do indivíduo com eventos aversivos em suas múltiplas interações, adquirindo função de algo ruim da qual a pessoa evita e se queixa (Zamignani & Banaco, 2005). Segundo os autores, a ansiedade define-se enquanto fenômeno clínico quando implica em um comprometimento ocupacional do indivíduo; impedindo o andamento de suas atividades; quando envolve um grau de sofrimento considerado como significativo e quando as respostas de evitação/eliminação ocuparem um tempo considerável do dia.

Segundo Estes e Skinner (1941), a ansiedade é um estado emocional que se assemelha ao medo, em que o estímulo “perturbador” – que é o principal responsável por tal estado – não precede ou acompanha o mesmo, mas é antecipado no futuro, ou seja, a ansiedade é definida a partir do componente de antecipação do estímulo aversivo condicionado. Assim, estímulos habitualmente neutros para a resposta de medo, se forem condicionados a estímulos aversivos incondicionados passarão a adquirir propriedades aversivas e poderão eliciar respostas semelhantes ao medo, não estando sob controle do futuro, e sim de um estímulo aversivo condicionado presente (denominado de pré-aversivo) (Estes & Skinner, 1941). Explorando o modelo skinneriano, os autores apontam que para detalhar ainda mais a definição de ansiedade, deve-se acrescentar que a mesma também é composta por respostas operantes. Além de ser uma resposta reflexa perante um estímulo aversivo condicionado, a ansiedade se constitui também por respostas operantes de fuga e esquiva de estímulos aversivos incondicionados e condicionados.

Além disso, pode-se observar também uma interação dessas respostas reflexas sobre o comportamento operante que estiver em curso quando da apresentação do estímulo aversivo incondicionado. Assim, caso houver a possibilidade de emissão das respostas de fuga do estimulo condicionado e/ou de fuga do incondicionado, tais respostas tornam-se mais prováveis de serem emitidas do que as que levariam à produção de estímulos reforçadores positivos. Caso não haja a possibilidade de respostas de fuga e esquiva, o efeito reflexo da estimulação condicionada paralisa (freezing) a emissão de respostas operantes que produzem o estímulo reforçador positivo. A tal descrição se deu o nome de supressão condicionada (Estes & Skinner, 1941).

O paradigma de supressão condicionada parece indicar que, ao se analisar a ansiedade, não se pode considerar somente respostas respondentes, visto que há outras interações no desempenho operante do organismo que devem ser analisadas. Assim, a ansiedade não seria aquilo que ocorre dentro da pela da pessoa e sim, toda a relação que envolve tanto a situação de ansiedade quando as alterações no repertório da pessoa produzidas nessa situação (Thomaz, 2011). A autora enfatiza que ansiedade se refere a um episódio emocional, onde há a interação entre comportamento operante-respondente, na qual, quando sua emissão é possível, respostas de fuga/esquiva aumentam de probabilidade e, quando não é possível, o efeito do estímulo condicional cessa a emissão de outras respostas operantes.

Há, portanto, consideração dos comportamentos operantes (Banaco & Zamignani, 2005). Além da resposta reflexa perante um estímulo aversivo condicionado, a ansiedade seria também composta de respostas operantes de fuga e esquiva de estímulos aversivos incondicionados e condicionados. Segundo Skinner (2000/1953), quando um organismo elimina ou diminui a intensidade de um estímulo incondicionado aversivo, fala-se que a resposta que produziu esse efeito é uma resposta de fuga. Já, quando o organismo posterga ou elimina um estímulo aversivo condicionado, chamamos a resposta de esquiva.

Além desses processos comportamentais envolvidos, discute-se que em alguns casos de queixa de ansiedade é possível observar respostas que reduzem ou evitam contato com o estímulo aversivo “ansiógeno”. Ocorre também a eliciação de respostas respondentes e ainda há uma alteração no valor de estímulos apetitivos e/ou aversivos, funcionando (segundo Thomaz, 2011) como uma operação abolidora – alterando a efetividade momentânea de reforçadores.

Zamignani e Banaco (2005) salientam também a função das operações estabelecedoras e comentam sobre a privação de atenção (entre outros estímulos reforçadores), enfatizando que muitos fatores ambientais podem aumentar o poder de controle operante das consequências sobre o responder. Destacam que grande parte dos clientes que se queixam de “excesso de ansiedade” possuem repertório limitado, tanto no que se refere a habilidades sociais, quanto a habilidades para a resolução e enfrentamento de problemas. Assim, por conta desse repertório limitado, a ação no ambiente pode produzir poucas consequências reforçadoras. Comentam também sobre outra operação estabelecedora – estimulação aversiva – e explicitam que em uma condição de estimulação aversiva, além dos respondentes incondicionados e condicionados eliciados, são evocadas respostas operantes que tenham como consequência a eliminação ou adiamento dessa estimulação aversiva. Assim, caso o indivíduo esteja exposto a um ambiente com muita estimulação aversiva, tem-se uma condição crônica de interações que produzem respostas de ansiedade e esquiva, além de baixa probabilidade de ocorrência de respostas que produzam reforçamento positivo, reduzindo a variabilidade e produzindo, também, estereotipia da resposta.

Zamignani e Banaco (2005) acrescentaram mais análises para o conceito de ansiedade, discutindo que um estímulo poderia se tornar aversivo condicionado não só via condicionamento direto com o estímulo aversivo incondicional e sim, por meio de transferência de funções de estímulos, generalização e/ou via classe de estímulos equivalentes, podendo, as respostas de o episódio emocional ansiedade fazerem parte de classes de respostas também mantidas por atenção social (reforçamento positivo).

Skinner (1978/1957), Eifert (1984), Forsyth e Eifert (1996) e Tyndall, Roche e James (2004) também se atentaram para relações operantes verbais na análise da ansiedade, na qual a discussão focaliza o condicionamento semântico, por meio dos quais palavras adquirem funções aversivas condicionadas, integrando o fenômeno emocional para um indivíduo. Segundo Skinner (1978/1957),

  • […] se um estímulo verbal costuma acompanhar alguma situação, que é o estímulo não condicionado ou previamente condicionado para uma reação emocional, o estímulo verbal eventualmente evoca essa reação. Assim, se alguém tem medo de cobra e se o estímulo verbal cobra acompanhou algumas vezes cobras de verdade, o estímulo verbal, sozinho, pode evocar uma reação emocional. (Skinner, 1978/1957, pp. 154-155).

Autores como Hayes, Wilson, Gifford e Folette (1996) sugerem que operantes verbais podem adquirir propriedades aversivas não por condicionamento semântico, mas, participando de classes equivalentes de estímulos. Essa análise permite entender/explicar o porquê respostas de ansiedade podem ser eliciadas/evocadas por pensamentos e sentimentos dos mais diversos e como a evitação desses eventos privados pode ser contraproducente para a busca de possíveis fontes de reforço.

Em outra direção, autores (Cone, 1998; Eifert & Wilson, 1991) discutem que estímulos verbais podem evitar respostas ansiosas. Isto é, “autoverbalizações” – respostas verbais emitidas por um indivíduo – que participam do controle de seu comportamento subsequente, podem funcionar para controlar respostas de ansiedade.

Segundo Coêlho (2011), as variações de definições encontradas para o conceito de ansiedade na literatura analítico-comportamental não são necessariamente incompatíveis, à medida que abordam diferentes relações de um fenômeno complexo. A autora destaca que o que há de comum nas várias definições examinadas é a importância atribuída a uma sinalização do estímulo aversivo pelo estímulo pré-aversivo e sua função na eliciação de respostas fisiológicas.

Comenta que, a partir disso, redes de relações mais ou menos complexas são construídas e definem a ansiedade de um indivíduo. Assim, a autora afirma que autores que referem apenas componentes respondentes o fazem sob controle de um aspecto da ansiedade; o mesmo pode ser dito dos que se limitam aos componentes operantes não verbais ou verbais. Assim, a partir das exposições do presente trabalho sobre ansiedade, sugere-se, segundo Zamignani e Banaco (2005), que o padrão comportamental característico dos transtornos de ansiedade é a esquiva fóbica, na qual, na presença de um evento ameaçador ou incômodo, a pessoa emite uma resposta que elimina, ameniza ou adia esse evento.

Os autores comentam que a diferença de cada um destes transtornos é o tipo de evento experimentado como ameaçador ou incômodo e/ou o tipo de resposta na qual o sujeito se engaja de forma a produzir uma diminuição do contato com o estímulo aversivo (processos de fuga/esquiva).

Assim, as respostas envolvidas nesse processo podem ser classificadas funcionalmente como respostas de evitação e/ou eliminação do estímulo temido, assim como respostas de verificação ou outras respostas repetitivas que pospõem ou eliminam temporariamente a ameaça da apresentação desse estímulo. De acordo com Zamignani e Banaco (2005, p.5):

  •  […] as operações estabelecedoras (condições de privação ou estimulação aversiva) compõem, juntamente com os estímulos discriminativos/eliciadores públicos e privados e com as respostas encobertas, o contexto antecedente para a emissão da resposta aberta sem a participação dos elos privados. O esquema ainda apresenta outras possíveis consequências que podem seguir à resposta, além da eliminação ou adiamento da estimulação aversiva. Essas consequências podem controlar a ocorrência de toda a cadeia de eventos comportamentais, fortalecendo a cadeia de eventos e restringindo a variabilidade da resposta. Como resultado, temos um repertório empobrecido e estereotipado, característico dos transtornos de ansiedade. Os estímulos (e respostas) presentes em qualquer ponto da cadeia de eventos podem fazer parte de classes de estímulos equivalentes por meio de relações de equivalência e de generalização de estímulos, eliciando ou evocando respostas de ansiedade.

No caso de uma “ansiedade social”, por exemplo, sugere-se que o contato social, crítica e/ou avaliação de terceiros sejam estímulos aversivos (cf. Zamignani & Banaco, 2005), que eliciam respondentes e evoquem comportamentos de fuga/esquiva (cf. Silvares & Meyer, 2000).

Referências

Coêlho, N. L. (2006). O conceito de ansiedade na análise do comportamento. (Tese de mestrado). Universidade Federal do Pará, Belém.

Cone, J. D. (1998). Hierarchical views of anxiety: What do they profit us?. Behavior Therapy, 29, 325-332.

Eifert, G. H. (1984). The effects of language conditioning on various aspects of anxiety. Behavior Research and Therapy, 22, 13-21.

Eifert, G. H., & Wilson, P. H. (1991). The triple response approach to assessment: A conceptual and methodological reappraisal. Behavior Research and Therapy, 29, 283-292.

Estes, W. K., & Skinner, B. F. (1941). Some quantitative properties of anxiety. Journal of Experimental Psychology29, 390-400.

Forsyth, J. P., & Eifert, G. H. (1996). The language of feeling and the feeling of anxiety: Contributions of the behaviorisms toward understanding the function altering effects of language. The Psychological Record, 46, 607-649.

Hayes, S. C., Wilson, K. G., Gifford, E. V., &  Follette, V. M. (1996). Experiential Avoidance and Behavior Disorders: A functional dimensional approach to diagnosis and treatment. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 64(6), 1152-1168.

Silvares, E. F. M., & Meyer, S. B. (2000). Análise funcional da fobia social numa concepção behaviorista radical. Revista de Psiquiatria Clínica, 27(6), 329-334.

Skinner, B. F. (1978). O Comportamento Verbal. Tradução de M. P. Villalobos.  São Paulo: Cultrix. (Trabalho original publicado em 1957).

Skinner, B.F. (2000). Ciência e Comportamento Humano. Tradução de R. Azzi. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1953).

Tyndall, I. T., Roche, B., & James, J. E. (2004). The relation between stimulus function and equivalence class formation. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 81, 257-266.

Thomaz, C. R. C. (2011). Episódios emocionais como interações entre operantes e respondentes. Em N. B. Borges & F. A. Cassas (Orgs.), Clínica analítico-comportamental: Aspectos teóricos e práticos (pp. 40-48). São Paulo: Artmed.

Zamignani, D. R., & Banaco, R. A. (2005). Um panorama analítico-comportamental sobre os transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva7, 77-92.

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