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Professor particular ou AT de estudos: Eis a questão!

Temos percebido em nossa prática, por meio dos contatos com pais, escolas, psicólogos e outros profissionais da área da saúde, algumas dúvidas em relação ao trabalho de um professor particular e de um profissional que realiza o acompanhamento de estudo. Tais questionamentos são bastante válidos e, por isso, decidimos escrever este texto e debater algumas questões importantes que permeiam a nossa prática. Pelo fato de que trabalhamos diariamente como profissionais que realizam acompanhamento de estudo, procuraremos definir mais a fundo o trabalho e depois discutiremos alguns tópicos em relação ao trabalho do professor particular e sua interrelação com o nosso trabalho. Muitas intervenções foram e são realizadas para aprimorar a qualidade do ensino e desenvolver comportamentos essenciais para o estudo.

A Análise do Comportamento possui um longo e importante histórico de intervenções para melhorar a qualidade de ensino, tais como: o sistema de ensino personalizado, as máquinas de ensinar e a instrução programada, o ensino de precisão, entre outros. Em relação ao desenvolvimento de comportamentos acadêmicos, muitas intervenções são realizadas e desenvolvidas, tais como: treino de colegas de classe – que muitas vezes são denominados tutores, treino de comportamentos a serem emitidos na sala de aula, treino de pais e professores, treino de agentes educativos em instituições educacionais, etc.

Focando no acompanhamento de estudo, profissionais com formação em Psicologia e Análise do Comportamento trabalham fora do consultório e realizam as intervenções na residência de crianças, adolescentes e adultos (chamados daqui em diante de “clientes”) que apresentam problemas de aprendizagem, dificuldades em estudar e em alcançar notas satisfatórias.

Em parte, o trabalho é uma modalidade adaptada do atendimento fora do consultório (Acompanhamento Terapêutico) e, em parte, utiliza técnicas comportamentais para o desenvolvimento de comportamentos voltados ao estudo, baseado nos pressupostos teóricos da Análise do Comportamento.

O foco do nosso trabalho recai sobre o comportamento de estudar, e o objetivo é desenvolvê-lo e mantê-lo no cotidiano e nos hábitos dos clientes que procuram o nosso serviço. Definimos “estudar” como um verbo que resume inúmeros comportamentos, tais como organizar material, sentar-se e folhear um material acadêmico, fazer lição, fazer trabalhos, ler um texto, responder perguntas, planejar o que é mais importante estudar no dia, etc. Esses são apenas alguns comportamentos de uma lista enorme de ações que uma pessoa executa para estudar.

O trabalho de acompanhamento de estudo não foca apenas a aprendizagem de conteúdos específicos, por exemplo: frações (na disciplina de Matemática) ou Segunda Guerra Mundial (na disciplina de História). O acompanhamento de estudo aborda desde a organização do local de estudo: verificação do mobiliário, iluminação, condição ambiental do local, objetos que podem distrair a pessoa (som alto, TV, vídeo-game, etc) até o auxilio na organização do material de estudo: verificar local correto para guardar os materiais, diferenciação do material – separação de livro/caderno, auxílio na limpeza de mochilas, entre outros aspectos.

O foco recai também na a organização e definição de uma rotina de estudos, na qual o profissional constrói, junto com o cliente, os possíveis horários para o estudo, a divisão de páginas para a leitura de livros paradidáticos, o estabelecimento de horários para se divertir e para se engajar nas lições de casa.

Quanto ao conteúdo das disciplinas, o profissional ensina os passos necessários para estudar. Exemplos: acerca de frações (na Matemática), ensina a extrair as informações relevantes do enunciado, voltar no material teórico para informar-se sobre como resolver o exercício, fazer tentativas de resolução revisando os passos, conferir o gabarito, formular dúvidas a partir dos erros, etc; quanto a um texto sobre a 2ª Guerra Mundial, o profissional auxilia a identificar partes relevantes do texto, organizar essas partes sublinhando, resumindo, fazendo perguntas, estabelecendo relações entre as frases etc.

Outro ponto importante do trabalho é o que vem após o comportamento de estudar. Quando o cliente grifa um texto e responde as questões de forma concentrada, o acompanhante também se atenta para prover algo gratificante, que varia de pessoa para a pessoa, podendo ser desde um elogio até recebimento de um vale-figurinha, um passeio, entre outras recompensas.

Relacionando todos esses aspectos, podemos considerar que um professor particular também pode se atentar para todas essas questões. Ele é um profissional muito importante para focar uma matéria específica em que o aluno possui dificuldade e/ou não apresenta pré-requisitos essenciais. Por exemplo: um aluno não entende equações de segundo grau e, por mais que o acompanhante o auxilie em como buscar as informações no livro, elaborar perguntas específicas, entre outros passos, percebe-se que o aluno não sabe a respeito de equações de primeiro grau e, ainda mais, não conhece os conteúdos antecessores à compreensão, tais como as regras de mudanças de sinais e tem dificuldade em contas de multiplicação e adição. Nesse caso, um professor particular de matemática pode auxiliar na retomada dessas habilidades pré-requisito para a resolução das equações de segundo grau.

Embora o professor particular possa observar as variáveis às quais atentamos, o tempo que o professor disponibiliza para ensinar determinada matéria para o aluno pode ser insuficiente para que ele consiga abarcar aspectos da organização e do repertório necessário para um estudo de qualidade. Aparentemente, tanto pela questão do tempo escasso como pelo desconhecimento de procedimentos e análise do caso adotada pelo acompanhante terapêutico, o professor acaba atendo-se em “passar” o conteúdo de sua expertise ao aluno com dificuldades.

O acompanhante terapêutico, em contraposição, não é formado em uma matéria específica e não está habilitado para responder algumas questões particulares de uma determinada matéria. O acompanhante se torna então, um “descobridor” junto com seu cliente, visto que ele mesmo “assume” a dúvida junto com o cliente, oferecendo dicas, discutindo a respeito de como solucionar tal dúvida, oferecendo modelo de como fazer e até pensando em perguntas que a pessoa poderá fazer para o professor. Dessa forma, não se foca apenas a solução, mas em todo o processo que leva à descoberta da solução.

Destaca-se que nada impede que o acompanhante terapêutico faça um trabalho junto com o professor particular e o instrua a prestar atenção para aspectos da organização, promoção de elogios e outras recompensas que o cliente possa ter ao se organizar melhor e/ou planejar o que vai estudar para o dia. Em alguns casos, portanto, é interessante que se faça um trabalho complementar, visto que o professor possui um conhecimento refinado no assunto e, junto com os procedimentos adotados pelo acompanhamento, o próprio ato de estudar pode se tornar mais agradável e menos penoso. Tanto um professor particular quanto um acompanhante voltado para o estudo (nos moldes em que definimos aqui) devem desenvolver a habilidade de construir uma parceria com o cliente, ficando sensíveis às mudanças graduais de cada habilidade de estudo que se desenvolve, entendendo o comportamento de estudar como um processo a ser aprimorado a cada dia.

Autores: FILIPE COLOMBINI, ANA BEATRIZ CHAMATI, CLAUDIA SARTORI, LIVIA F. NEGRÃO, MARIA ISABEL CAMARGO, NICOLAU K. PERGHER, SAULO FIGUEIREDO.

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