Antes de falarmos sobre os transtornos de ansiedade é fundamental destacar que o trabalho de um psicólogo que faz o atendimento extraconsultório (acompanhamento terapêutico) não é melhor ou pior que um atendimento realizado dentro do consultório.
Estamos lidando com o comportamento humano que é complexo e possui uma série de influências, estando em constante movimento e em frequentes mudanças. Falar do acompanhamento terapêutico é falar de uma estratégia, de um tipo de atendimento que pode ser indicado para alguns casos e contraindicados para outros casos.
Caso a avaliação seja bem feita e os objetivos bem traçados, a indicação para o acompanhamento terapêutico se mostra muito promissora, visto que o profissional que realiza este trabalho está preparado para utilizar os estímulos fora do consultório, além de seus métodos, técnicas e de sua interação para auxiliar a pessoa a lidar com os transtornos de ansiedade.
Falando neles, os transtornos de ansiedade se diferenciam da ansiedade em si pela intensidade, persistência por um longo período de tempo e pelo enorme sofrimento que prejudica a pessoa em diversas “áreas” da sua vida: pessoal, profissional, lazer…
Transtornos de ansiedade são considerados fenômenos complexos, envolvendo, de acordo com Coelho e Tourinho (2008):
– Reações fisiológicas (aumento da frequência cardíaca, sudorese, boca seca, náusea, tensão muscular, entre outras sensações fisiológicas desconfortáveis).
– Comportamentos de fuga e esquiva, ou seja, comportamentos que “buscam” evitar, adiar e/ou eliminar estímulos temidos. Exemplo: uma pessoa que tem fobia de cachorros ao assistir um filme em que aparece um cachorro desliga a TV imediatamente.
– Pensamentos a respeito da própria ansiedade, sobre si mesmo e sobre os outros. Exemplo: a pessoa pensa que não é uma boa pessoa e que não conseguirá lidar com a ansiedade.
– Ambientes sociais (comentários de familiares, amigos, entre outros, que podem intensificar a própria ansiedade). Exemplo: quando a pessoa comenta que está muito ansiosa recebe atenção da mãe e/ou quando relata que está ansiosa tem permissão de sair do trabalho mais cedo.
Pensando na questão dos estímulos temidos e nos comportamentos de fuga e esquiva relatados, os transtornos de ansiedade são classificados, segundo Banaco e Zamignani (2005):
– Fobia simples: a pessoa evita, adia e/ou quer eliminar estímulos específicos que “produzem” a ansiedade. Exemplo: uma pessoa que tem fobia de palhaço (estímulo específico) pode evitar a qualquer custo ver, pensar, falar em um palhaço; ir a uma festa…
– Fobia social: a pessoa evita, adia e/ou quer eliminar críticas ou avaliação de outras pessoas. Exemplo: uma pessoa que tem fobia social pode evitar a qualquer custo estar junto de outras pessoas em uma sala de aula, “temendo” responder qualquer tipo de pergunta feita pelo professor e pelos colegas…
– Pânico: a pessoa evita, adia e/ou quer eliminar a própria sensação de medo/desconforto físico. Exemplo: uma pessoa que tem pânico pode ficar atenta a todas as suas reações fisiológicas e teme “perder o controle” da situação quando sente qualquer sinal de seu batimento cardíaco acelerar…
– Agorafobia: a pessoa evita, adia e/ou quer eliminar qualquer situação em que não tem a possibilidade de escapar e/ou se proteger. Exemplo: uma pessoa que tem pânico pode evitar a qualquer custo estar dentro de uma garagem, pois foi lá que teve sua primeira crise de pânico…
– Stress pós-traumático: a pessoa evita, adia e/ou quer eliminar qualquer pensamento e/ou situação (qualquer coisa) associada ao trauma sofrido. Exemplo: uma pessoa que tem stress pós-traumático pode evitar a qualquer custo falar ou estar próxima de homens após um abuso sexual sofrido.
– Ansiedade generalizada: a pessoa evita, adia e/ou quer eliminar qualquer tipo de sensação e/ou situação. Exemplo: uma pessoa que tem ansiedade generalizada pode se sentir ansiosa a maior parte do dia, evitando diversos locais de seu bairro…
– TOC (Transtorno obsessivo compulsivo): a pessoa evita, adia e/ou quer eliminar ideias, impulsos e pensamentos que vêm à mente de forma “automática”. Exemplo: uma pessoa que tem ansiedade realiza rituais (lavar constantemente a mão) para eliminar/evitar o pensamento que tem em relação à morte de sua mãe…
Após apresentar brevemente os transtornos de ansiedade mais frequentes e alguns conceitos envolvidos, destaca-se que cada pessoa possui uma história única e particular que deve ser considerada pelo profissional no momento da intervenção, evitando qualquer tipo de rótulo e/ou preconceito em relação ao diagnóstico envolvido.
Referências
Coelho, N. L., & Tourinho, E. Z. (2008). O conceito de ansiedade na análise do comportamento. Psicologia: Reflexão e Crítica, 21(2), 171-178.
Zamignani, D. R., & Banaco, R. A. (2005). Um panorama analítico-comportamental sobre os transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 7, 77-92.